Filmes e Projetos

Será possível afirmar ter existido para Vladimir Herzog uma carreira cinematográfica? Que o cinema atravessou sua vida desde muito cedo até o momento de sua morte é inegável: mostram-no a assiduidade nas salas de exibição, o vínculo com a Cinemateca Brasileira, as coberturas de eventos ligados à sétima arte e os escritos críticos para O Estado de S. Paulo (e, depois, para a Visão), a convivência e amizade com os mais importantes nomes do cinema brasileiro da época. E, não obstante, a produção autoral de Herzog na área é modesta....

Será possível afirmar ter existido para Vladimir Herzog uma carreira cinematográfica? Que o cinema atravessou sua vida desde muito cedo até o momento de sua morte é inegável: mostram-no a assiduidade nas salas de exibição, o vínculo com a Cinemateca Brasileira, as coberturas de eventos ligados à sétima arte e os escritos críticos para O Estado de S. Paulo (e, depois, para a Visão), a convivência e amizade com os mais importantes nomes do cinema brasileiro da época. E, não obstante, a produção autoral de Herzog na área é modesta.

Paradoxalmente, o ápice da criação cinematográfica de Vladimir Herzog é também o seu primeiro e único curta-metragem, Marimbás, de 1963, resultado do Seminário Arne Sucksdorff. Mas é na esteira desse curso e na feliz conjunção entre a presença de Fernando Birri e o aparecimento repentino de Thomaz Farkas que Herzog e outros cineastas brasileiros (e argentinos) poderão dar vazão e concretude a ideias e projetos.

Fernando Birri conta:

[...] organizaram uma palestra na cinemateca, onde estava Paulo Emílio [Salles Gomes]. Quem organiza é Rudá de Andrade, e junto com ele está Vlado e também Sérgio Muniz, está toda a turma com a qual, quando termina a palestra nesta mesma noite, saímos todos com um entusiasmo único, falando em fazer muitos filmes, e isso e aquilo [...] e então se aproxima um senhor, jovem ainda, porém um pouquinho mais velho do que nós, que diz “que bom… tenho uma casa de fotografia que tem aparelhos”… e esse senhor… [...] Thomaz Farkas, grande Thomaz! Nasce então aí o movimento documentarista paulistano. E Thomaz decide levar adiante essa empresa, a assume economicamente, produz os documentários [...] (ver artigo de Mariluce Moura Mariluce na Revista FAPESP, "Fernando Birri: um construtor de utopias")

Tem origem aí o que se transformará, nos anos seguintes, na Caravana Farkas – uma empreitada que promove, entre 1964 e 1965, o aparecimento de quatro médias-metragens imediatamente reunidos no longa Brasil verdade: Subterrâneos do futebol, de Maurice Capovilla; Memórias do cangaço, de Paulo Gil Soares; Nossa escola de samba, de Manuel Horácio Gimenez; e Viramundo, de Geraldo Sarno. Outro depoimento fundamental para o entendimento desse esforço e do papel de Vladimir Herzog dentro dele é o de Maurice Capovilla:

Bom, por incrível que pareça, de certa maneira, esses filmes – quatro – [...] surgem... Porque nós, a partir de 1964, nós estávamos fugindo da polícia, todos. [...] Então, todos nós saímos da cidade e fomos para a casa do Farkas, em Guarujá. [...] Na verdade, nós fomos primeiro para a casa do Vlado, do pai do Vlado [...], que tinha uma casa também em Guarujá, e depois passamos para a casa do Thomaz [...], porque começou a chegar gente de São Paulo, como o Sérgio Muniz, e chegou o Geraldo Sarno; o Vlado etc. Nós éramos uns cinco. [...] Então, o Thomaz tem uma câmera já comprada [...], então resolvemos cada um de nós bolar, naquele espaço e durante aquele tempo, bolar os filmes que queríamos fazer. (Entrevista de Maurice Capovilla ao CPDOC)

Sérgio Muniz ratifica e complementa essa visada retrospectiva:

E coincide uma série de oportunidades, entre elas, quais são? Vem para São Paulo o Geraldo Sarno, fugido da Bahia, eu não sei por qual via ele chega ao Farkas; o Paulo Gil Soares, que tinha sido assistente do Glauber no Deus e o Diabo na Terra do Sol, vai para o Rio. Enfim, as pessoas começam a vir para o sul. E o Farkas entra em contato com esse pessoal, junto com o Vlado: “Vamos fazer? O que nós vamos fazer?”. E junto com o Vlado e o Capovilla começa a montar a história do Subterrâneos do futebol, o Sarno começa a montar a estrutura do "Viramundo"; com uma ligação que tinha através do então diplomata Arnaldo Carrilho, consegue uma coprodução do Ministério das Relações Exteriores para o filme do Paulo Gil, que é Memórias do cangaço. Então essa coisa começou: não tudo filmado ao mesmo tempo, mas contemporaneamente: filmava aqui, filmava ali, filmava aqui.

Nessa fase, Vladimir Herzog participa de Subterrâneos do futebol, como chefe de produção, e de Viramundo, na captação do som direto. Seu envolvimento com o grupo e as realizações é rompido, no entanto, com a ida para Londres, em julho de 1965. Sérgio Muniz chega a afirmar que a sua entrada definitiva no cinema foi viabilizada pela partida de Herzog: assumiu a posição do amigo em Viramundo.

Absorvido pelo trabalho jornalístico (e uma curta passagem por uma agência de publicidade), é provável que Vladimir Herzog nunca mais tenha desempenhado tarefas num ambiente de filmagem cinematográfica. Isso, todavia, não o impediu de sonhar e planejar. Na Inglaterra, suas cartas revelam o desejo de filmar um documentário sobre Karl Marx. Entre seus papéis encontra-se pronto um roteiro para um filme intitulado "Poluição". É célebre, ainda, o seu projeto de realizar um documentário sobre Canudos/Antônio Conselheiro, para o qual chega a reunir material de pesquisa, além de viajar para a região de Canudos, jornada que rende mais de duas centenas de fotografias. Por fim, pouco antes de assumir a direção de jornalismo da TV Cultura, ele e João Batista de Andrade se encontram às voltas com a pesquisa e a escrita do roteiro de Doramundo, atividade a que Herzog, ao fim, não poderá dar sequência.

Teria sido Vladimir Herzog um “quase cineasta” ou um cineasta frustrado, como alguns chegam a sugerir? É provável. Mas isso não invalida o que foi capaz de fazer e a solidariedade e o auxílio que dispensou a amigos e profissionais com quem se relacionou.


MOURA, Mariluce. Fernando Birri: um construtor de utopias. Revista Fapesp, São Paulo, n. 127, set. 2006. Disponível em https://revistapesquisa.fapesp.br/2006/09/01/um-construtor-de-utopias/. Acesso em 20 mar. 2020.

CAPOVILLA, Maurice. Maurice Capovilla (depoimento, 2013). Rio de Janeiro; CPDOC, 2013. Disponível em https://cpdoc.fgv.br/memoria-documentario/maurice-capovilla. Acesso em 20 mar. 2020.


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Marimbás, 1963

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Roteiro do filme 'Marimbás'

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Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 2 maio 1963

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Carta de Vladimir Herzog para Jean-Claude Bernardet, 8 maio 1963

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Carta de Edoardo Speranza para Vladimir Herzog, 23 jul. 1963

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CASES faz cinema no Auditório do MEC

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Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967

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Subterrâneos do futebol, 1965

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[Vladimir Herzog e Thomaz Farkas em filmagem de 'Subterrâneos de futebol', 1964]

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Carta de Vladimir Herzog para Alex Viany, 19 ago. 1967

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Viramundo, 1965

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Entrevista com Sergio Muniz

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Antonio Conselheiro: Projeto para um filme de TV

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[Açude Cocorobó e árvore]

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[Açude Cocorobó e casas]

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[Açude Cocorobó e casas] (2)

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[Açude Cocorobó]

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