TV Cultura

Vladimir Herzog colocou pela primeira vez os pés na Fundação Padre Anchieta, como jornalista contratado, em 1973, recrutado por Fernando Pacheco Jordão para o cargo de secretário de redação do telejornal Hora da Notícia. Nessa circunstância, Herzog dividia o expediente na TV Cultura com a editoria cultural da revista Visão, o que explica a dinâmica de trabalho diária tal como relatada por Mylon Severiano, Narciso Kalili e Palmério Dória, membros da equipe por ele coordenada:...

Vladimir Herzog colocou pela primeira vez os pés na Fundação Padre Anchieta, como jornalista contratado, em 1973, recrutado por Fernando Pacheco Jordão para o cargo de secretário de redação do telejornal Hora da Notícia. Nessa circunstância, Herzog dividia o expediente na TV Cultura com a editoria cultural da revista Visão, o que explica a dinâmica de trabalho diária tal como relatada por Mylon Severiano, Narciso Kalili e Palmério Dória, membros da equipe por ele coordenada:

O Vlado chegava sempre no meio da tarde, aí pelas 4 e meia. Naquela época ele era uma espécie de secretário do telejornal. Era de chegar trabalhando: pegava a pauta, lia imediatamente com uma atitude muito sua, a de coçar alguns cabelos do alto da cabeça, de pé, e o papel na outra mão. Sua função era editar e botar no ar o telejornal que nós fazíamos, com uma equipe de mais de vinte pessoas. Ou seja, às 21 horas em ponto, com script na mão, ele acompanhava da técnica os trinta minutos de Hora da Notícia, como um responsável e representante da redação, ali na hora, no estúdio. (citado por Paulo Markun, em Meu querido Vlado, p. 40)

O Hora da Notícia ainda contava com outros jornalistas com quem Vladimir Herzog cultivou ou cultivaria relações profissionais ou de amizade: Marco Antonio Rocha era seu colega na Visão, mas só aparecia para fazer comentários sobre economia; Nemércio Nogueira, que fora seu companheiro de BBC, em Londres, apresentava o jornal mas não convivia com a redação; e João Batista de Andrade, que será um parceiro na área de cinema, tinha uma independência de trabalho e pauta, produzindo especiais que Herzog encaixava na programação:

[...] no programa A Hora da Notícia (sic), que foi finalmente criado, o Fernando era o diretor, o Vlado era editor e eu era o diretor de especiais, repórter especial. [...] Eu era totalmente independente, que era a minha condição também, mas aí eu saía com a minha equipe, sem nem saber o que ia fazer. [...] Então, o Vlado, que era editor, achava um lugar de encaixar, porque geralmente eram três, quatro, cinco, até sete minutos de especial.

Avalia-se que o Hora da Notícia, sob o comando de Vladimir Herzog e amparado por essa equipe de jornalistas, logrou realizar, em tempo de ditadura e censura, um tipo de telejornal diferente do que era exibido nos demais canais televisivos, abordando uma gama diferenciada de temas voltada aos problemas sociais brasileiros, enquanto o padrão vigente era a veiculação de propagandas governamentais travestidas de matérias jornalísticas. Segundo Audálio Dantas, o Hora da Notícia “surgiu como uma alternativa ao jornalismo pasteurizado que se fazia na televisão” (ver As duas guerras de Vlado Herzog, p. 64). (Exemplos de episódios do jornal e do trabalho editorial de Herzog podem ser verificados nos roteiros e vídeo disponibilizados neste Acervo.) Ao final, esse formato atraiu insatisfações e pressões externas, levando à demissão de Fernando Pacheco Jordão e à dissolução da equipe de jornalismo. Vladimir Herzog deixa a TV Cultura em dezembro de 1974.

Ele retorna, contudo. Em setembro de 1975, Herzog é convidado a assumir a diretoria de jornalismo da emissora. A passagem foi curta, como se sabe, de tal forma que ele não teve condições de implantar a reformulação do departamento tal como propôs num documento encaminhado ao presidente da Fundação Padre Anchieta – “Considerações gerais sobre a TV Cultura” (ver Meu querido Vlado, de Paulo Markin, p. 78) – ou na entrevista que cedeu ao jornal Aqui São Paulo. O jornalismo da TV Cultura como um todo e Vladimir Herzog em particular sofreram, desde o início, uma aguda campanha de perseguição e difamação por indivíduos alinhados com a linha dura do governo. Em razão disso, sem completar dois meses no cargo, Vladimir Herzog estaria morto.


DANTAS, Audálio. As duas guerras de Vlado Herzog. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: a história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.


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<i>Hora da Notícia</i>, 26 set. 1975

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Vladimir Herzog caminha pelo estúdio do programa <i>Homens de Imprensa</i>

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