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Em 1969, a despeito da experiência internacional na BBC de Londres, do trabalho anterior em O Estado de S. Paulo, das colaborações em projetos na Cinemateca Brasileira e das contribuições avulsas na Revista Visão, Vladimir Herzog retorna ao Brasil sem perspectivas de emprego. Em verdade, seu grande objetivo, manifestado em cartas a amigos, é trabalhar com TV Educativa (ver carta de Vladimir Herzog para Paulo Emílio Salles Gomes ou esta carta de Vladimir Herzog a Tamás Szmrecsányi). O compromisso da TV Cultura de admiti-lo após o retorno da Europa, necessário para validar sua inscrição no curso de Produção Televisiva na BBC, não se concretizou. É então que, inusitadamente, Vlado se emprega na J. Walter Thompson Publicidade, assumindo o cargo de produtor de TV....

Em 1969, a despeito da experiência internacional na BBC de Londres, do trabalho anterior em O Estado de S. Paulo, das colaborações em projetos na Cinemateca Brasileira e das contribuições avulsas na Revista Visão, Vladimir Herzog retorna ao Brasil sem perspectivas de emprego. Em verdade, seu grande objetivo, manifestado em cartas a amigos, é trabalhar com TV Educativa (ver carta de Vladimir Herzog para Paulo Emílio Salles Gomes ou esta carta de Vladimir Herzog a Tamás Szmrecsányi). O compromisso da TV Cultura de admiti-lo após o retorno da Europa, necessário para validar sua inscrição no curso de Produção Televisiva na BBC, não se concretizou. É então que, inusitadamente, Vlado se emprega na J. Walter Thompson Publicidade, assumindo o cargo de produtor de TV.

Essa passagem profissional é quase órfã de registros documentais. Resta uma declaração da empresa atestando o trabalho de Vlado no período de um ano, além de registros na carteira de trabalho e uma informação de currículo. No mais, pouco se sabe concretamente sobre suas atividades na J. W. Thompson: o que produziu, se a função lhe agradava, que impressões e lembranças guardou? Paulo Markun, em Vlado: retrato da morte de um homem e de uma época, reporta uma avaliação de Clarice Herzog a atestar ter sido essa “a época mais difícil e infeliz da vida dele [Vlado]”, tendo ele “sofrido terrivelmente por ter de fazer um trabalho que não tinha nada a ver com a cabeça dele” (p. 28). 

Já Nilce Tranjan, amiga de faculdade de Vlado, e, por puro acaso, colega dele na Thompson, mesmo sem oferecer fatos de maior monta, não tem dessa fase uma visão tão sombria. Segundo ela, em função dos conhecimentos que angariou estudando cinema e TV, Vlado “era uma figura absolutamente útil e desejada naquele departamento”. Quando perguntada sobre o modo como ele encarava esse trabalho, Nilce responde: “É claro que não era o sonho da vida dele fazer comerciais. Mas nunca ouvi uma queixa”. O ano de Thompson, entretanto, não redunda em nenhuma anedota, e volta a esconder-se numa grande névoa: “não me lembro de nenhum caso muito fora do normal […]. É uma coisa que era um trabalho”.

HERZOG, Clarice & MARKUN, Paulo (orgs.). Vlado: retrato da morte de um homem e de uma época. São Paulo: Brasiliense, 1985; São Paulo: Círculo do Livro, 1988.