TV Universitária da UFPE

Uma nota sucinta em Vlado: retrato da morte de um homem e de uma época, de Paulo Markun (repetida ainda mais abreviadamente em Meu querido Vlado), é uma das minguadas referências que existem a respeito da passagem de Vladimir Herzog pela TV Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, em 1969: “No fim do ano, Vlado e Clarice vão a Recife, tentar um trabalho na TV Educativa. O projeto é abandonado” (p. 19). Nem carteira de trabalho nem currículo contém registro dessa experiência....

Uma nota sucinta em Vlado: retrato da morte de um homem e de uma época, de Paulo Markun (repetida ainda mais abreviadamente em Meu querido Vlado), é uma das minguadas referências que existem a respeito da passagem de Vladimir Herzog pela TV Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, em 1969: “No fim do ano, Vlado e Clarice vão a Recife, tentar um trabalho na TV Educativa. O projeto é abandonado” (p. 19). Nem carteira de trabalho nem currículo contém registro dessa experiência.

Ao quebra-cabeça, entretanto, ainda é possível ajuntar mais duas peças. Restou no espólio de Vlado uma carteira de identificação interna (com foto) da TV Universitária, atribuindo-lhe o cargo de “Diretor do Departamento de Realização”, memento que, no mínimo, sugere não ter sido tão curta a passagem pela UFPE. Por fim, localizou-se um depoimento transcrito na dissertação de mestrado de Maria Clara Angeiras, Televisão e educação: história da criação da primeira TV educativa do Brasil – TV Universitária, canal 11; nele, o professor da UFPE José Mário Austregésilo, que lá trabalhou entre 1968 e 1987 (p. 75), relembra sumariamente o convívio com Vlado:

O Vladimir Herzog, antes de ser preso lá na TV Cultura de São Paulo, ele esteve um tempo trabalhando na TV Universitária. O que é interessante é que, apesar de ele ter sido preso pela ditadura militar, ele veio para Recife para fazer o curso de alfabetização. Depois ele tentou fazer outros cursos. Agora, como ele era um profissional preparado, me lembro dele em reunião dizendo que “não faço nada sem ter o dinheiro, sem ver o dinheiro para fazer”. Então, ele não demorou muito tempo e foi embora. [...] Eu inclusive trabalhei com ele um tempo para fazer a seleção do pessoal que ia participar dos projetos, mas ele não demorou muito porque ele via que não ia ter orçamento específico para aquilo. Nós tivemos bons momentos lá, nada assim pitoresco. (p. 143).

Se, infelizmente, a história desse episódio não pode ser reconstituída nos seus pormenores, é importante verificar como, mesmo na memória daqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer mais profundamente Vladimir Herzog, conserva-se essa impressão do profissional sério e dedicado, comprometido ou a desenvolver projetos consequentes; e, no caso de não haver condições para isso, preferindo colocar o seu padrão de qualidade acima de qualquer outra circunstância.


ANGEIRAS, Maria Clara de Azevêdo.Televisão e educação: história da criação da primeira TV educativa do Brasil – TV Universitária, canal 11. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. Disponível em https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/15039. Acesso em 21 mar. 2020.

MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: a história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.


Cartões ou carteiras de identificação (1)

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Carteira da TV Universitária da UFPE

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